Saúde mental dos estudantes em meio à pandemia de covid-19

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Resumo: O ano de 2020 iniciou cheio de ideias e projetos por parte dos discentes do ensino médio. A expectativa de um novo ano, da realização de provas para ingresso no ensino superior para uma parte desses estudantes, ou do início de um ciclo de estudos no ensino médio buscando atingir as metas para o futuro ingresso nas universidades. Entretanto, a pandemia da COVID- 19 apareceu para mudar toda a rotina com a qual o mundo estava acostumado. Nesta senda, o presente trabalho analisará o impacto dessa mudança abrupta na saúde mental na percepção dos discentes de uma rede pública e privada, em virtude da necessidade de adaptação dos meios de aprendizagem para o ensino remoto e a contribuição da escola e família nesse processo adaptativo de ensino e no suporte psicológico.

Palavras-chave: 1. Saúde mental; 2. Ensino remoto; 3. Pandemia; 4. Covid-19; 5. Rede pública; 6. Rede privada.


INTRODUÇÃO

A pandemia da COVID-19 alterou toda a rotina com a qual o mundo estava acostumado. Nesse sentido, os preceitos educacionais também sofreram significativas mudanças de paradigmas. O ano de 2020, semelhante aos anteriores, iniciou com os discentes indo à escola, a fim de participarem da interação com os docentes e demais colegas, numa inserção do processo de ensino-aprendizagem; no entanto, com a pandemia, toda a logística educacional precisou ser transformada.

Assim, em meados de março de 2020, as aulas presenciais das diversas redes de ensino foram suspensas, a fim de proporcionar o distanciamento social para conter a transmissão do Coronavírus. Com isso, muitos estudantes ficaram em casa, em isolamento social para que não fossem acometidos pelo vírus que tem se espalhado em todo o globo. Desse modo, no início do período de quarentena, não houve ações de ensino, ao menos não as formais, porquanto se achava que logo as aulas presenciais iriam ser retomadas.

No entanto, como isso não foi possível, e o isolamento social precisou ser mantido por mais tempo do que o esperado, as TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação – ganharam ainda mais força. O ensino remoto começou a ganhar espaço e, se antes o celular e as novas tecnologias causavam receio aos professores, com o ensino remoto, passaram a ser cruciais para que a aprendizagem continuasse a ocorrer. Google Meet, Google Classroom, plataforma, forms, câmera, microfone... são inúmeras as novas nuances da educação. Contudo, apesar da necessidade de uso dessas tecnologias, isso também provocou um aprofundamento da desigualdade social, pois nem todos os discentes tiveram boas condições para se adaptar a esse novo meio de ensino, e, inserido em um contexto de isolamento, tal situação fez com que muitos estudantes desenvolvessem problemas relacionados à saúde mental.

Inserido nesta temática é que se encontra o escopo do nosso trabalho. Nele, buscaremos analisar qual o impacto da pandemia do covid-19 na saúde mental dos estudantes durante o ensino remoto? Dessa forma, pretendemos entender quais são as percepções que os discentes, da rede pública e particular de ensino, possuem em relação à saúde mental e a ansiedade deles nesse período de pandemia e ensino remoto. Além disso, buscaremos interpretar tais dados, com a finalidade de perceber as igualdades e as diferenças nas respostas dos educandos das diferentes redes. Importante mencionar que a escolha do tema justifica-se pela necessidade de estudos dessa nova modalidade de ensino nas nossas instituições, bem como há a necessidade de averiguar como tem se dado os preceitos dos estudantes sobre tópicos como ansiedade, entusiasmo e aprendizagem.

O corpus utilizado foi composto por um questionário, criado por intermédio do Google Formulários, o qual possui questões objetivas, em um primeiro momento para analisar o perfil social do respondente, e em um segundo momento para a coleta dos dados que serão analisados nesse trabalho, além de uma questão subjetiva para os discentes discorrerem sobre alguma situação específica, caso se sintam à vontade. O questionário criado foi enviado aos discentes por meio de grupo de mensagens instantâneas.

As perspectivas teóricas que foram utilizadas para análise dos dados partem de autores e versam sobre ensino remoto e saúde mental. Nesse viés, procuramos buscar respaldo nas nossas análises para que chegássemos às percepções dos discentes e, tendo tais resultados, pudéssemos perceber se há divergência de pensamento entre os alunos das diferentes redes, bem como as noções de auxílio da escola, aprendizado no ensino remoto, entre outros.


2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1. Caracterização da Pesquisa

Iniciando pela caracterização quanto à natureza, a presente pesquisa se enquadra em um estudo de natureza básica, uma vez que pretende-se gerar conhecimento e informações sobre a temática analisada, sem necessariamente uma aplicação prática desse conhecimento.

Quanto aos objetivos, a presente pesquisa caracteriza-se como pesquisa descritiva. Segundo Gil (2008), a pesquisa descritiva consiste em descrever as características de determinadas populações ou fenômenos. Uma de suas peculiaridades está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática. Assim, o grupo de trabalho analisou as características do grupo de estudantes do ensino médio, da rede pública e particular de dois estados diferentes, relacionando com a saúde mental deles em período de ensino remoto, não interferindo na análise.

Em relação à abordagem, a realização desta pesquisa usará os métodos qualitativos e quantitativos, ou seja, terá uma abordagem combinada. Isso porque o trabalho está dividido em dois momentos sequenciais distintos, sendo o primeiro a coleta de dados e análise quantitativa dos questionários respondidos pelos discentes, e, posteriormente, uma análise qualitativa das respostas e dos gráficos produzidos a partir dos questionários.

Uma pesquisa de levantamento, conforme afirma Gil (2008), é a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados. Portanto, nesta pesquisa será coletada informações dos discentes por meio de questionários e após isso, gráficos serão elaborados para a análise das respostas enviadas, caracterizando uma pesquisa de levantamento, quanto aos procedimentos.

A figura 1 a seguir representa o tipo de pesquisa usada neste trabalho.

Figura 1: Tipo da Pesquisa

Fonte: Autores (2020)

2.2. Etapas da Pesquisa

Em relação às etapas, o trabalho desenvolveu-se em sete etapas principais, descritas da seguinte forma: a primeira foi a definição da temática, sendo ela: “a saúde mental dos estudantes em meio à pandemia”; e o enfoque de atuação da pesquisa, que foram escolhidos estudantes do ensino médio da rede pública e privada. Depois, na segunda etapa, realizamos o levantamento bibliográfico para embasar a fundamentação teórica da pesquisa. O terceiro passo foi a elaboração do questionário que foi respondido pelos discentes, em que foi feita uma discussão entre os membros do grupo de trabalho para chegar à formulação de dez questões sobre a temática. Após isso, na quarta etapa, houve a coleta de dados, ou seja, a aplicação dos questionários. Em seguida, na quinta etapa, realizamos a análise dos resultados, por meio das respostas dos alunos e elaboração de gráficos para melhor visualização dos resultados dos dados obtidos, bem como a avaliação qualitativa desses dados, explicados no tópico de análise de resultados deste artigo. Por último, a elaboração das demais partes do artigo em grupo. As etapas da pesquisa estão exemplificadas na figura 2 a seguir.

Figura 2: Etapas da Pesquisa

Fonte: Autores (2020)


3. OBJETIVOS

O objetivo geral da pesquisa é analisar, de forma crítica, a percepção de discentes de uma escola pública do interior da Paraíba, bem como de uma escola privada da capital potiguar sobre a saúde mental deles, em período de ensino remoto, ocasionado pela pandemia da COVID-19.

Os objetivos específicos são:

  • Construir questionários pelo Google Formulários e enviar aos discentes, por intermédio das plataformas WhatsApp e Google Sala de aula;

  • Fomentar a participação dos discentes por intermédio de engajamento nos grupos de mensagens instantâneas, além da plataforma virtual de aprendizagem;

  • Basear a análise por meio de estudos de teóricos que abordam as questões ligadas à educação remota e à saúde mental;

  • Construir gráficos com os resultados, com o fito de melhor perceber as respostas dos alunos entrevistados;

  • Averiguar as igualdades e as diferenças nas respostas dos discentes da rede pública e da rede particular de ensino.


4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1. O contexto da pandemia do COVID-19

Essa não é a primeira pandemia que a humanidade enfrenta, costuma-se, acompanhando a ciência, pensar-se somente na doença, principalmente em todos os seus aspectos médicos (ARAÚJO, 2020). O coronavírus integra uma família de vírus já conhecida pelo homem, que causa doença tanto nos humanos quanto nos animais. O SARS-coV-2 como também é conhecido, foi encontrado em morcegos por cientistas chineses, que acreditam que foi essa a origem da transmissão. É de conhecimento da comunidade científica que houve uma mutação genética no vírus, provocando o chamado transbordamento zoonótico, acarretando transmissão para o ser humano.

O Brasil teve o primeiro caso registrado no dia 26 de fevereiro, conforme o foi noticiado pelos jornais e pelo Ministério da Saúde. O espaço temporal entre o primeiro caso detectado e o primeiro óbito em razão da doença, já colocava a nação na 11° posição de país com mais casos confirmados (DORNELS et al., 2020). Visto o alto potencial de contaminação, no dia 6 de fevereiro foi decretado a Lei n° 13.979 que já previa as possíveis medidas a serem adotadas para o enfrentamento da Covid-19. Enquanto no Rio Grande do Norte, o primeiro decreto publicado pelo governo estadual foi no dia 13 de março de 2020, que tratava sobre a redução dos atendimentos por órgão públicos e medidas de segurança.

No dia anterior havia sido registrado no estado o primeiro caso, na qual uma jovem de 24 anos que havia retornado de uma viagem à Europa teve o caso confirmado pelas Secretarias de Saúde Pública do Estado e a Municipal de Natal. Com o crescente número de casos e óbitos no país, a necessidade de manter o isolamento para conter o avanço da doença foi fundamental. O primeiro setor afetado foi o mercado de trabalho, afinal os infectados passaram a precisar ficar em quarentena, enquanto os mortos representavam uma baixa nas empresas. Outro setor que sofreu com o isolamento foi o setor de serviços (PORSSE et al., 2020, p.5)

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4.2. Saúde Mental

Iniciaremos pelo conceito de “saúde” dado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a qual a define como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”, além disso, a OMS entende que “gozar do melhor estado de saúde que é possível atingir constitui um dos direitos fundamentais de todo o ser humano, sem distinção de raça, de religião, de credo político, de condição econômica ou social”.

Para Gama, Campos e Ferrer (2014, p. 72), “a definição de saúde mental ou saúde psíquica é ainda mais complicada pois além de estar diretamente vinculada à questão do normal e do patológico envolve a complexa discussão a respeito da loucura e todos os estigmas ligados a ela”.

Dessa forma, a OMS afirma que “a saúde mental é um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de dar uma contribuição para sua comunidade”, além disso:

A saúde mental é fundamental para nossa habilidade coletiva e individual, como humanos, de pensar, se emocionar, interagir uns com os outros, ganhar a vida e aproveitar a vida. Com base nisso, a promoção, proteção e restauração da saúde mental podem ser consideradas como uma preocupação vital de indivíduos, comunidades e sociedades em todo o mundo (OMS, 2018) .

4.3. Ansiedade

Segundo o Ministério da Saúde (2015), o termo ansiedade possui várias definições nos dicionários não técnicos: aflição, angústia, perturbação do espírito causada pela incerteza, relação com qualquer contexto de perigo, etc. Além do mais, “levando-se em conta o aspecto técnico, devemos entender a ansiedade como um fenômeno que ora nos beneficia ora nos prejudica, dependendo das circunstâncias ou intensidade, podendo tornar-se patológica, isto é, prejudicial ao nosso funcionamento psíquico (mental) e somático (corporal)”. Dessa forma, “a ansiedade estimula o indivíduo a entrar em ação, porém, em excesso, faz exatamente o contrário, impedindo reações” (BRASIL, 2015).

Para a psicóloga Thaiana F. Brotto, a ansiedade é um estado onde prevalece a incerteza e a angústia, caracterizadas pelo sentimento de medo e insegurança. Ela também afirma que a ansiedade em nível adequado proporciona motivação pessoal e profissional mas em excesso paralisa, inquieta e perturba. Além disso, um indivíduo pode sofrer com uma ansiedade constante sem nenhuma razão, ou pode apresentar os sintomas às vezes, mas de forma tão intensa que se sentirá imobilizado.

Em relação aos principais transtornos de ansiedade, Dias (2019) demonstra que são: Síndrome do Pânico; Estresse Pós-Traumático (EPT); Fobia social; TAG (Transtorno de ansiedade generalizada); e TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo). Cada um tem uma definição diferente apresentada pela Psicóloga Naiara Antunes de Sousa Dias (2019):

  • Síndrome do Pânico: Consiste em uma sensação de medo ou intenso mal estar. Os ataques iniciam-se de maneira abrupta e alcançam sua máxima intensidade em até dez minutos. Ao término de uma crise de pânico, o indivíduo relata uma sensação de esgotamento, fraqueza e relaxamento excessivo

  • Estresse Pós-Traumático (EPT): Distúrbio caracterizado pela dificuldade em se recuperar depois de vivenciar ou testemunhar um acontecimento assustador.

  • Fobia social: Distúrbio em que as interações sociais causam uma ansiedade irracional.

  • TAG (Transtorno de ansiedade generalizada): Distúrbio caracterizado por sentimentos de preocupação, ansiedade ou medo irracionais

  • TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo): Pensamentos excessivos (obsessões) que levam a comportamentos repetitivos (compulsões).

4.4. Ensino Remoto

Apesar do Covid-19 infectar pessoas de todas as faixas etárias, muito se divulgava sobre os grupos de risco, ou seja, os idosos e indivíduos com doenças crônicas (BORGES E CRESPO, 2020). Contudo, a quarentena não somente restringiu e modificou a dinâmica diária das pessoas que pertenciam aos grupos de risco, mas também a realidade de crianças e adolescentes, que tiveram que deixar de frequentar a escola e manter o distanciamento social, o que provocou consequências tanto na vida social como na acadêmica (ALMEIDA et al., 2020).

Períodos sem aulas, causa efeitos sobre o aprendizado, como já foi visto em situações de férias anuais. Todavia, isso não se compara a uma interrupção dos estudos decorrentes de um evento imprevisível. Ainda não é possível dimensionar os impactos ocasionados pela paralisação das aulas e nem qual a exata maneira de contornar o tempo e qualidade de ensino perdidos durante a pandemia. Uma das alternativas pensadas foi estender a carga horária semanal pós-quarentena, mas ampliação dessas horas mostrou em pesquisas anteriormente feitas em uma perda de engajamento dos alunos com o conteúdo dado (OLIVEIRA; GOMES; BARCELLOS, 2020).

Uma das possibilidades apontadas para não atrasar o ano letivo foi a implementação do ensino à distância (EAD) tanto em escolas públicas como nas privadas. O ensino remoto que já vinha sendo usado como uma forma de flexibilizar e respeitar as diferenças individuais das formas de aprendizagem, requer aspectos fundamentais para ser aplicado de forma eficiente. Dentre esses elementos estão desde capacidade de ser usado, que apresente uma eficiência, abranja até as pessoas mais distantes e a capacidade de envolver o aluno no assunto a ser ensinado (SIMÃO et al., 2013).


5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Iniciaremos neste tópico a análise de resultados obtidos por meio da aplicação do questionário elaborado pelo grupo de trabalho. Em primeiro lugar, é indispensável explicar que apenas 45 respostas foram registradas no formulário. Dessas, 35 alunos são da rede pública de ensino e somente 10 alunos são da rede privada, tornando-se um fator limitador para o desenvolvimento do estudo. A despeito de não termos atingido um quantitativo maior de respostas, efetuamos a análise adiante.

5.1. Perfil dos respondentes

A princípio, por meio do questionário aplicado, buscou-se entender qual o perfil dos respondentes do nosso estudo. Para isso, realizamos as seguintes perguntas: qual a sua idade?; em que série você estuda?; e se estuda em escola da rede pública ou privada. A partir dessas respostas, delineamos quem foram os discentes respondentes da pesquisa aplicada. O gráfico 1 apresenta a idade dos alunos, e nele percebemos que, em sua maioria, os estudantes possuem entre 15 e 19 anos, representando 76% do público respondente da pesquisa.

Gráfico 1 - Idade dos Alunos

Fonte: Autores (2020)

O gráfico 2 nos mostra qual foi, dentro das respostas obtidas, o percentual referente aos alunos da rede pública e da rede privada de ensino. Verificamos então um perfil maior de discentes do ensino público, representando 78% do total, e apenas 22% de respostas de alunos da rede privada.

Gráfico 2 - Rede de Ensino

Fonte: Autores (2020)

Por fim, o gráfico 3 verifica em que ano do ensino médio os alunos respondentes se encontram. Nosso maior público foram discentes do 3º ano, cerca de 53% do total, seguido de alunos do 1º ano, representando 25% do total, e finalmente 22% dos alunos estudam o 2º ano do ensino médio.

Gráfico 3 - Ano de estudo

Fonte: Autores (2020)

5.2. Análise quantitativa

Em um segundo momento, partimos para as perguntas mais específicas do questionário. O primeiro questionamento apresentado no gráfico 4, demonstra o percentual de alunos participantes os quais consideram que tiveram a sua saúde mental prejudicada durante o período de pandemia. Conforme os dados coletados, aproximadamente 64% (29 alunos) afirmaram que foram afetados neste período de pandemia. Já para 36% (16 discentes), a pandemia não teve influência em relação a esse aspecto.

Gráfico 4 - Influência da pandemia

Fonte: Autores (2020)

Os gráficos 5 e 6 a seguir, demonstram o percentual de alunos que consideraram sua saúde mental afetada, divididos entre as escolas de nível médio das redes públicas e privadas, respectivamente. Em relação às primeiras, de acordo com os dados obtidos, 69% tiveram a saúde afetada e, consequentemente, 31% responderam que não foram afetados. Já em relação à rede privada, o resultado foi de 50% para cada uma das respostas.

Gráfico 5 - Análise na rede pública

Fonte: Autores (2020)

Dessa forma, podemos notar uma pequena diferença entre os respondentes de cada rede, uma vez que, em geral, alunos da rede privada possuem mais recursos para permanecer nessa modalidade de ensino.

Gráfico 6 - Análise na rede privada

Fonte: Autores (2020)

Em seguida, perguntamos se em uma escada de 1 a 5, o quanto os estudantes consideravam que a saúde mental havia sido prejudicada. Portanto, o gráfico 7 expressa o grau de interferência na saúde mental em relação àqueles que afirmaram que a pandemia trouxe danos à saúde. Desse grupo em específico, ou seja, 65% do universo analisado, aproximadamente 34% afirmaram que houve interferência nível 3 de uma escala que vai de 1 a 5, sendo que 72% consideraram no mínimo o grau 3, ou seja, 3,4 ou 5. Cabe destacar que apenas 3% considerou que a pandemia interferiu apenas no grau 1.

Gráfico 7 - Grau de interferência

Fonte: Autores (2020)

O gráfico 8 apresenta os dados de todos os entrevistados. Nesse ponto foi verificado se houve sintomas de ansiedade em virtude da ausência das aulas presenciais. Para 69% dos alunos participantes (total de 31 respondentes), essa ausência gerou efeitos negativos no que tange a esse aspecto. Os demais discentes não relataram problemas com ansiedade no período.

Gráfico 8 - Sintomas de ansiedade

Fonte: Autores (2020)

Os gráficos 9 e 10 demonstram os resultados coletados relacionados à pergunta “Você se sente/se sentiu mais ansioso nesse período sem aulas presenciais?”, divididos em relação às escolas da rede pública e da rede privada de ensino. Conforme foi verificado, na rede pública, 69% dos discentes alegaram que a pandemia trouxe sintomas de ansiedade. em relação à rede privada, esse número foi de 70%.

Gráfico 9 - Sintomas de ansiedade (rede pública)

Fonte: Autores (2020)

Percebemos então, que relacionado à ansiedade, o percentual de alunos de ambas as redes foi praticamente o mesmo, diferentemente do resultado observado quando perguntamos em relação à saúde mental, onde obtivemos que, para a rede pública 69% dos alunos tiveram a saúde afetada e para rede privada, 50% dos alunos.

Gráfico 10 - Sintomas de ansiedade (rede privada)

Fonte: Autores (2020)

Neste ponto foi perguntado aos que afirmaram terem adquirido sintomas de ansiedade, em que grau isso ocorreu. O gráfico 11 apresenta os dados tendo como parâmetros um escala que vai de 1 a 5, sendo 1 o menor grau e 5 o maior. O maior percentual verificado foi para o grau 5, para aproximadamente 39% dos que se sentem ansiosos, esse foi o grau alcançado. Um número expressivo verificado foi o de alunos que informaram um grau maior ou igual a 3, esse percentual foi de aproximadamente 84%, totalizando 26, dos 31 alunos respondentes. Aqui também podemos notar a diferença entre o questionamento do grau de ansiedade e de saúde mental prejudicada. No gráfico 7, anteriormente apresentado, a maior incidência foi no grau 3, e em relação a ansiedade, gráfico 11, obtivemos uma maior incidência no grau 5.

Gráfico 11 - Grau de ansiedade

Fonte: Autores (2020)

O gráfico 12 apresenta os dados em relação à aprovação ou não da utilização do ensino remoto em tempos de pandemia. Conforme foi verificado, para cerca de 64% o ensino à distância é um meio válido caso não seja possível as aulas de forma presencial, como o vivido no período da pandemia do COVID-19.

Gráfico 12 - Ensino remoto na pandemia

Fonte: Autores (2020)

Além disso, perguntamos sobre a comparação do ensino remoto com o presencial. Esse resultado está presente no gráfico 13. Vale salientar que aqui foram todos os alunos, tanto os que consideram válido o ensino remoto como os que não têm esse mesmo pensamento. Para 75% dos entrevistados, o ensino remoto não gera o mesmo rendimento que o ensino presencial, ou seja, eles consideram que aprenderam menos nesse período do que no período tradicional.

Gráfico 13 - Ensino Remoto x Presencial

Fonte: Autores (2020)

O gráfico 14 apresenta a participação dos familiares dos alunos durante esse processo. Aproximadamente 65% dos participantes da pesquisa informaram que não têm a ajuda de familiares durante o ensino remoto. Sabemos que esse resultado influencia diretamente na opinião dos alunos quanto ao nível de aprendizado por meio remoto, tanto que, no gráfico 13 anterior, o percentual de alunos que afirmaram não aprender da mesma forma do período presencial, foi próximo ao resultado obtido no gráfico seguinte.

Gráfico 14 - Ajuda dos familiares

Fonte: Autores (2020)

Por fim, o último questionamento feito aos alunos está apresentado no gráfico 15, o qual mostra o resultado do suporte psicológico disponibilizado pela instituição de ensino. A pesquisa mostrou que cerca de metade das escolas (53%) tinham esse recurso para a utilização dos alunos entrevistados.

Gráfico 15 - Suporte da escola

Fonte: Autores (2020)

5.3. Análise qualitativa

Analisando os dados obtidos, observam-se resultados condizentes com a pesquisa de monitoramento “Jovens na Pandemia”, desenvolvida pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), onde demonstra que diante do atual cenário da pandemia do COVID-19, sintomas ocasionados pelo isolamento domiciliar são propícios para afetar a saúde mental de crianças e adolescentes, como alterações no sono, agressividade, desânimo, excessos de raiva e sintomas de ansiedade e depressão, fatores que consequentemente afetam a aprendizagem que já vem sendo afetada, conforme mostram os dados.

De acordo a pesquisa TIC Domicílios 2019, a internet não alcança 20 milhões de casas no Brasil. Dados preliminares de um levantamento mais recente apontam que quase 5 milhões de crianças e adolescentes, entre 9 e 17 anos, vivem em domicílios sem acesso à internet (CETIC, 2019). Sendo assim, ressaltando os resultados obtidos no presente artigo, verifica-se que o ensino remoto que apresenta uma solução diante do atual cenário mundial, também propaga e perpetua as desigualdades sociais já existentes, visto que as famílias em condição de menor nível socioeconômico são ainda mais afetadas, seja pela falta de condições econômicas para equipamentos tecnológicos para todos os filhos, seja pela falta de acompanhamento dos pais que precisam priorizar a fonte de renda familiar, expressando a análise aqui presente, bem como o monitoramento feito pelos pesquisadores da USP, onde a incidência de ansiedade e depressão é quase duas vezes maior em famílias com menor nível socioeconômico em relação às de maior renda.

Outra questão que deve ser levada em consideração são os riscos da remotização e seus impactos na esfera educacional, ressaltando a necessidade do contato social em proximidade com indivíduos distantes do núcleo familiar para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes (PAPALIA & FELDMAN, 2013), bem como os impactos cognitivos no aprendizado por essa transposição metodológica de aprendizado.

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Sobre os autores
Raphael Andreson Soares da Silva

Bacharel em Turismo pela Universidade Potiguar. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pós-graduado em Segurança Pública. Pós-graduado em Direito Tributário.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

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